Restauro

A nova Sala: Acessibilidade e Espaços Sociais

O espaço ganhou acessibilidade em seus três andares, através de rampas e elevadores. Tanto a sala de concerto (plateias inferior e superior) como os ambientes sociais tornaram-se acessíveis. Os banheiros estão instalados em todos os andares, sempre com opção de atendimento a cadeirantes. Outra novidade da reforma é a bomboniére do primeiro andar e o Café da Sala, que funcionará no segundo piso atraindo um novo público e ainda possibilitando uma permanência maior de seus visitantes para um aperitivo antes ou depois de concertos e programações.

“A abertura dos grandes vãos interiores, com pé direito que vai do primeiro ao quarto pavimento, foi um dos grandes passos para a criação do novo conceito da Sala Cecília Meireles. Outro ponto que deve ser destacado é a harmonia entre o projeto acústico, que definiu cada detalhe da reforma da sala de concerto, e a proposta de ambientação contemporânea que integra a Sala ao espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro”, diz Tania Chueke, arquiteta responsável pelo projeto.

Para não perder uma de suas principais marcas, foi preservado o painel modernista no fundo do palco. O mesmo estilo do painel deu origem ao desenho da luminária do foyer. O artista plástico Marcos Chaves criou a instalação Dois Irmãos para esta área, que consiste em fotografias montadas através de uma estrutura de metal, em planos e volumes, que compõem juntas uma paisagem. “Fotografo muito a cidade e criei esta obra especialmente para a Sala, que fica no coração do Rio”, conta o artista.

 

Espaço Guiomar Novaes

O prédio anexo abriga o novo Espaço Guiomar Novaes, transformado em uma sala multiuso, com cabine de som e luz, que pode servir para diferentes funções, desde auditório de palestras a camarim para orquestras; de ensaios para apresentações até recitais de menor porte. O prédio anexo também passou a abrigar dois novos camarins, a administração e uma sala de estudo isolada para os artistas que quiserem se preparar antes das apresentações. A antiga fachada lateral do Grande Hotel também foi resgatada.

 

Modernização e Restauro

A obra exigiu, como não poderia deixar de ser, a criação de um projeto equilibrado que trabalhasse em diferentes frentes: além do aprimoramento da acústica, um dos eixos principais, tornava-se urgente a modernização do prédio, com a criação de um ambiente contemporâneo e de uma nova identidade para um imóvel que nasceu como mercearia, tornou-se hotel, cinema (1939) e, posteriormente, sala de concerto (1965). Isso sem contar sequer com a planta original. Para realizar uma obra deste porte, em um imóvel tombado pelo patrimônio, foi necessário um cuidadoso trabalho de restauro a fim de dar conta da missão de renovar e modernizar o conceito do espaço, sem modificar as características originais do prédio, tombado em 2005 pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Cultural (INEPAC). A Sala passa a ter agora uma interação com o ambiente exterior, através de amplas janelas de vidro e grandes portas que estarão abertas durante o dia todo, dando acesso às duas bilheterias e ao café do segundo andar.

Com total ausência de registros da arquitetura original do prédio, a obra foi marcada por muitos imprevistos e pela necessidade constante de replanejamento. Um dos maiores desafios foi a descoberta das paredes de pedra do antigo hotel, com alizares (um tipo de proteção) de madeira devorados por cupim. Foi necessário contratar uma empresa especializada que abriu o arco do frontão cortando os grandes blocos de pedra com lâminas de diamante, uma operação delicada e complexa que tomou muito mais tempo do que o previsto. Para dar estabilidade à parte curva do arco, foi usada fibra de carbono, tecnologia supermoderna. Foi necessário, além disso, reforçar a estrutura de todo o prédio e refazer as lajes. O imóvel tinha passado anteriormente por apenas duas grandes reformas: em 1939, quando virou cinema, e em 1989, em função de um laudo técnico que atestava que parte da estrutura precisava ser reforçada.

 

Nova Acústica

O projeto acústico foi o grande eixo da reforma de modernização de interior e priorizou materiais que contribuem para tornar a Sala um espaço especial dedicado à escuta musical. Neste contexto, a madeira ganha lugar de destaque. É de madeira também o desenho do grande teto em ondas que se desenrola de forma harmoniosa do segundo ao quarto andar. Foram feitos inúmeros testes com músicos da Orquestra Petrobras Sinfônica e com a equipe do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia). Os plissados que rodeavam o palco, por exemplo, foram retirados, pois os primeiros testes já identificavam que havia interferência na acústica. Uma equipe de especialistas na área foram responsáveis pela obra e a empresa irlandesa, Woodfit, que produz marcenaria acústica, implementou o projeto.